
Durante anos, Matheus Duarte, de 23 anos, não entendia o incômodo que sentia por causa do barulho, a sensação de deslocamento também o acompanhava por onde ele ia, assim como os tiques, manias e outros comportamentos que para ele eram normal, mas chamavam atenção das pessoas a sua volta.
A resposta para as questões que acompanharam o jovem, estagiário da Escola do Tribunal de Contas do Acre, só começaram a ser respondidas no começo de 2025, quando após uma avaliação médica ele foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
“Teve a questão do alívio [pelo diagnóstico], mas primeiro veio muito mais a sensação de que eu não era funcional”, contou.

O que é TEA?
Apesar da sensação de isolamento que Matheus sentiu durante a maior parte de sua vida, ele faz parte de um grupo significativo dentro da população brasileira. Uma estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta a existência de ao menos 2 milhões de pessoas no Brasil com transtorno do espectro autista.
O TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento, geralmente identificado por dificuldades na interação social, padrões de comportamentos repetitivos, hiperfoco em determinados temas ou áreas de interesse, além de alta sensibilidade sensorial e outras características.
No mundo, seriam mais de 70 milhões. Esse número pode estar defasado, já que os dados mais recentes são de 2010. Já no Acre não há números oficiais, um grupo de trabalho do Ministério Público do Acre (MP-AC) estimou, em 2023, ao menos 20 mil pessoas vivendo com TEA no estado, sendo que no máximo, 12 mil possuíam laudo atestando a neuroatipicidade.

Roda de conversa
O autismo, apesar de ser o mais conhecido, faz parte de uma família de neurodivergências que incluem ainda o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), a dislexia e a discalculia.
Para dar voz aos servidores neuroatípicos e promover a conscientização sobre o tema, o Tribunal de Contas do Acre (TCE-AC) promoveu uma roda de conversa sobre neuroatipicidade no serviço público com uma palestra apresentada pela neuropsicóloga Tatiana Braga e pela psicóloga Yasmin Amaral. O evento, organizado pela Escola de Contas da instituição, ocorreu nessa terça-feira (20).
Tatiana ressalta que após a entrada em vigor da Lei Brasileira de Inclusão, em 2015, os órgãos públicos passaram a receber cada mais servidores com necessidades especiais e precisam estar adaptados para garantir que a legislação seja cumprida.
“Os órgãos e especialmente as pessoas que tomam decisões precisam compreender o funcionamento das pessoas, entender que elas precisam sim de tecnologias assistivas, que elas precisam de adaptações razoáveis e fomentar isso nas instituições, para que, de fato, a inclusão ocorra. A inclusão não é uma ação, especificamente ela passa por ações, mas ela é uma convicção de que somos diversos e temos capacidades diversas também”, afirmou.
Acolhimento e adaptações razoáveis
No caso de Matheus, ele conta que mesmo antes do diagnóstico sentiu o acolhimento na Escola de Contas.
“Graças a Deus eu trabalho em uma equipe pedagógica, creio que em outro local não teria sido da mesma forma. [E temos que] pensar que foi graças do TCE, pessoas do TCE que observaram, apontaram e tentaram resolver [a busca pelo diagnóstico]. Passei a vida sendo apontado como chato, complicado, e quando cheguei na escola uma das interpretações era que eu precisava de uma atenção a mais. Sempre educação, empatia”, salientou.
Assistente técnica da Escola de Contas, Sabrina Jucá destacou a importância desse apoio. “Temos que pensar em como facilitamos a vida de todos os nossos colegas e as nossas vidas. Neuroatipicidade é da nossa conta”, destacou.
Durante o encontro, servidores do TCE com diagnósticos de neurodivergências, ou que possuem casos na família puderam apresentar suas histórias, colaborando para a quebra de tabus.
“Quando a gente se volta para uma palestra com foco no ambiente de trabalho, no adulto neurodivergente, a gente tem uma dificuldade de encontrar materiais acessíveis disponíveis. O desafio é trazer esse conteúdo de forma prática e efetiva, quebrar um pouco dessa distância. Exige uma quebra de ruptura na mentalidade que a gente tinha até então”, concluiu Yasmin.








